Estou há muito tempo sem escrever. Confesso que estou sem tempo e sem imaginação. Andei pensando muito sobre a vida, e conhecendo muito sobre ela também. Fazendo estágio em uma Associação que incuba Cooperativas Populares, estou conhecendo muito sobre a vida. Repito, muito sobre a vida. Nunca pensei que esse estágio pudesse me fazer tão bem, pudesse me ajudar a conhecer coisas que estão tão fora da nossa realidade. Não digo entender e sim aprender, pois só entenderemos se vivermos na pele o que os recicladores e catadores de lixo realmente vivem.
Uma vida cheia de dificuldades, cheia de obstáculos tao difíceis de ultrapassar. Doenças estranhas, traumas desnacessários, dinheiro acabando, ou nem chegando, uma luta constante para alimentar os filhos, e muitas vezes até mesmo o marido que está desempregado ou é dependente químico. Sol, chuva, raio, eles têm que trabalhar… trabalham por eles mesmos, e se não o fizerem, não tem como sobreviver no próximo mês.
Pneumonia, bactérias sem cura, estúpro – inclusive de menor, traição, falsidade, maus tratos, roubo (todas estória que ouvi recentemente).
Hoje ouvi uma cooperada dizendo, “Pé de pobre não tem tamanho não, pode doar qualquer número que meu filho usa”.
Dignidade da Pessoa Humana – Art. 1º, III, CF.
Existe?
Tem gente por ai dizendo que todos os brasileiros tem uma vida digna, e que o Estado oferece bons cuidados à todos os cidadãos brasileiros. CIDADÃOS BRASILEIROS!!!!
Todos esses trabalhadores exigem serem tratados com respeito.
Vocês já pararam para pensar em quem recolhe o lixo da sua casa??? Imagine se esse lixo NUNCA fosse recolhido? E quem paga por essa coleta? O Município? Deveria, mas não o faz, ainda. Na verdade, uma parte dos nossos impostos, que são tantos, deveria ser destinado ao pagamento dessas pequenas empresas, chamadas de Cooperativas, que fazem o recolhimento do lixo reciclável, triam, ou seja, separam o material para que este possa ser vendido às empresas que fazem sua reutilização.
As Cooperativas são obrigadas a recolher o material, não são pagas pelo seu serviço e têm que fazer malabarismos contábeis para gerar renda para, no mínimo, 20 cooperado, exigência da Lei das Cooperativas nº 5764/71.
Conclusão disso, pessoas que trabalham 8 horas por dia, e em alguns casos, recebem em média R$ 300 a 600 reais, para sustentar sua família – e não tem outra fonte de renda.
Essa é a realidade dos CIDADÃOS BRASILEIROS de baixa renda!!
Outro dia farei um artigo sobre população de baixa renda, sendo este meu assunto de iniciação científica.
Para encerrar, digo que nem todos sabem o que se passa no mundo, mas todos nós estamos interligados. Deixamos nosso lixo na porta, separamos adequadamente, mas não temos ideia do que acontece depois. E por trás desse depois, estão muitas vidas que precisam de ajuda, que estão dispostas a trabalhar sob quaisquer condições de tempo, mesmo adoentados e feridos por fora, e por dentro.
Respeito é bom e todos gostam. Um sorriso e um abraço partindo desses trabalhadores nunca me faltou. Mesmo com tanta dificuldade, ainda nos recebem com abraços e beijos e com muito carinho e atenção.
Peço à vocês que se preocupem mais com o ambiente, e com o que vem depois das ações que tomam. Separar o reciclável do orgânico não é difícil, e é o mínimo que podemos fazer por eles.
Agora, lhes pergunto: Porque ficar no mínimo, se sempre podemos fazer mais??? O que você pode fazer?